“Isso me intrigou. Por que razão Júpiter estaria à Leste das estrelas fixas enquanto no dia anterior ele estava a Oeste de duas delas?”
Com a chegada da sonda Juno em Júpiter no início do mês de Julho desse ano, eu não poderia deixar escrever a resenha de um livro que é um marco da Astronomia Observacional. As quatro Luas de Júpiter que aparecem no vídeo que a NASA divulgou em homenagem a Galileu com a chegada da sonda em Júpiter, são as chamadas Luas, ou satélites, Galileanas: IO, Europa, Callisto e Ganymede. Chamam-se Galileanas porque elas foram descobertas por Galileu Galilei em 1610 fazendo uso de sua luneta.
Galileu escreveu diversos livros dos quais alguns foram publicados. O primeiro livro que ele escreveu e que também foi publicado, chama-se Sidereus Nuncius nome em latim cuja tradução é Mensageiro das Estrelas. Publicado em Veneza, em Março de 1610 essa obra é considerada a mais importante de toda a história do pensamento científico. Nela, Galileu relata a maior parte de suas descobertas até o momento como a superfície da Lua ser marcada por crateras e montanhas, as incontáveis estrelas de que é formada a Via Láctea, a nossa Galáxia, e os quatro satélites em torno de Júpiter. Anunciou ele também, o seu instrumento de observação, o telescópio, instrumento esse com o qual fez suas observações.
O livro contava com pouquíssimas páginas mas nem por isso menos importante. Ali ele mostrou ao mundo um universo pouco explorado e fascinante. As Luas Galileanas tiveram destaque em seu livro. Ele relata as observações dos satélites de Júpiter – que de início acreditava ele, ser estrelas fixas – feitas entre 7 de Janeiro e 2 de Março de 1610, totalizando 65 observações. Mas ao longo das observação e anotações diárias mostrando a posição das “estrelas” e Júpiter através de gravuras, ele conclui se tratar na verdade de satélites. As maiores Luas de Júpiter estavam então devidamente descobertas e catalogadas.
O pequeno grande livro foi dedicado a Cosimo II, grão-duque da Toscana e chefe da poderosa família Médici.
Vamos a um trecho de seu livro quando ele relata o início de suas observações das “estrelas fixas” em torno de Júpiter. Conta ele:
” No dia 7 de Janeiro do presente ano, 1610, nas primeiras horas dessa noite, quando eu estava observando as constelações do céu através de um telescópio, o planeta Júpiter apareceu no meu campo de visão, e como eu tinha construído um excelente instrumento observacional, eu notei uma circunstância na qual eu nunca havia percebido, devido a limitação do meu instrumento anterior, a saber, que três pequenas estrelas mas muito brilhantes, estavam próximas do planeta, e, apesar de eu acreditar que elas pertenciam ao número de estrelas fixas, ainda me causou espanto, porque elas pareciam estar precisamente alinhadas, paralelamente a eclíptica e mais brilhantes do que o resto das estrelas de igual magnitude. A posição delas com referência a elas mesmas e com Júpiter foi a que segue :
No lado Leste estavam duas estrelas, e uma no lado Oeste. A estrela na qual estava mais a Leste, e a que estava a Oeste, pareciam maior do que a terceira [..] Eu acreditava que elas fossem estrelas fixas mas no dia 8 de Janeiro eu apontei novamente meu telescópio para essa mesma área e encontrei uma situação muito diferente. As três estrelas estavam do lado Oeste de Júpiter e numa distância igual entre elas como pode ser visto no desenho abaixo:
Isso me intrigou. Por que razão Júpiter estaria à Leste das estrelas fixas enquanto no dia anterior ele estava a Oeste de duas delas? […] Esperei impacientemente pela noite seguinte. Mas fiquei desapontado pois o céu estava coberto com nuvens por toda parte. “
Qual astrônomo amador nunca suspirou de desapontamento ao ver o céu nublado quando esperava ansioso por uma noite estrelada para observar os objetos selecionados anteriormente ? 😉
” No décimo terceiro dia, diz Galileu, pela primeira vez, foram vistas quatro pequenas estrelas … as três estrelas não só mudaram de posição novamente como uma nova estrela apareceu:
Três estavam a Oeste e uma, a Leste. Formavam uma linha quase reta, mas a estrela no meio das ocidentais estava um pouco desviada para Norte da linha reta […] “
A narrativa segue contando suas observações que foram documentadas, dia após dia, e, conclui então que as estrelas até então supostamente fixas , eram na verdade, satélites de Júpiter que, nesse relato, ele chamou de quatro Planetas Mediceus, ou “Estrelas Mediceias“.
Lindíssimo livro ! Quem tiver a oportunidade, não deixe de ler. É simplesmente fascinante acompanhar as descobertas de Galileu.
E se você tiver um binóculos 10×50, ou superior, – ou quem sabe um telescópio?? – em noites escuras e longe da poluição luminosa, faça como Galileu. Observe Júpiter por dias seguidos e se encante com suas Luas Galileanas dançando ao redor do majestoso e encantador planeta Júpiter.
Juno Approach Movie of Jupiter and the Galilean Moons por NASA
Nota e Referências:
- Trechos em itálico traduzidos do Inglês Sidereus Nuncius por Andreia Azevedo
- Desenho de Júpiter e suas Luas Galileanas feito em Pastel Seco e Lápis Carvão por Andreia Azevedo em Junho de 2016.
- Vídeo Juno Approach Movie of Jupiter and the Galilean Moons por NASA- Canal YouTube NasaJuno – https://www.youtube.com/watch?v=XpsQimYhNkA
Thanks, Gudrun Gilman for mochileiradaleitura.com
Гарний пост, я поділився ним із
друзями.